TRIBUNA LIVRE DA CÂMARA DEBATE AS PRÁTICAS ANTISSINDICAIS DA FIAT

Depois da audiência pública realizada em junho na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), o ciclo de debates públicos que visa denunciar as práticas antissindicais da Fiat, prosseguiu nesta segunda-feira (13), desta vez no Legislativo de Campo Largo. Durante sessão, a “Tribuna Livre” foi ocupada pelo presidente do Sindimovec, Adriano Carlesso, que fez um relato histórico dos abusos da empresa contra o movimento sindical no município. O encontro foi um ensaio para outra audiência pública que também será realizada na Câmara, ainda em data a ser definida, com a presença de vereadores, deputados estaduais, federais e senadores.

De acordo com Carlesso, o Sindicato já buscava, há algum tempo, apoio das autoridades locais para expor a problemática no âmbito doméstico. “Nós já conseguimos avanços importantes com o apoio de várias entidades do movimento sindical que estão conosco nessa luta e, estar aqui na Câmara, é mais uma oportunidade de ampliar o debate que afeta diretamente a comunidade campo-larguense, pois, como tenho dito: quando uma empresa nova vem para a cidade, todos ganham. Quando uma empresa fecha as portas, todos perdem. E quando uma empresa desrespeita a sociedade civil organizada e as entidades de representação sindical, a sociedade toda deve ter esse conhecimento, pois também perde com isso. E nós estamos falando a respeito de contratos de trabalho, de empregos e de respeito ao trabalhador e às instituições que existem para cumprir seu papel na sociedade, como é o caso do Sindimovec”, lembrou.

Carlesso reafirmou que a campanha contra os atos antissindicais da Fiat é fruto da postura da empresa em não reconhecer o papel do sindicato enquanto negociador das reivindicações dos trabalhadores. “As ações antissindicais da Fiat estão em todas as plantas espalhadas pelo país e pelo mundo. A empresa não respeita o movimento sindical. A empresa ignora completamente o papel do Sindicato. Aqui em Campo Largo, por exemplo, decidiu apresentar e colocar em votação, por conta própria aos trabalhadores, a mesma proposta que havia sido recusada pelo sindicato em mesa de negociação”.

O Sindicato tentou chamar a empresa para o diálogo de várias formas, inclusive, apostando na irreverência e bom humor, ao lançar o “Negociômetro”. “Hoje (13), inclusive, completamos 60 dias do lançamento do negociômetro e 129 dias sem negociação”.

Os números da empresa asseguram que há plenas condições de atender às reivindicações dos trabalhadores. “A Fiat alcançou em vendas, no primeiro semestre deste ano, 1,1 milhão de unidades. As receitas subiram 19% no primeiro trimestre de 2015. Os lucros no primeiro período deste ano foram de 92 milhões de euros, sem contar que a empresa tem planos de, até 2018, aumentar seus lucros em 50%,” sustenta Adriano.

Mesmo num ano considerado difícil na economia, o Sindimovec conseguiu garantir os acordos coletivos dos trabalhadores das empresas Caterpillar e Metalsa, também representados pelo sindicato. “Cada uma, apesar de suas limitações por conta da crise atual, fez a sua parte assegurando uma reposição aos trabalhadores. Talvez não com os índices almejados, mas houve uma negociação, uma conquista, ainda que menor”, analisa.

Aposta no diálogo

Na Tribuna Livre, Carlesso lembrou ainda, o nascimento do Sindimovec pautado, desde o início, na política do diálogo. “Nosso Sindicato é resultado de um desmembramento forçado do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba. Nós lutamos judicialmente por mais de 15 anos para conquistar a legitimidade da representação dos trabalhadores metalúrgicos específicos de Campo Largo. Toda esta batalha foi para que tivéssemos como política base de negociação o diálogo e a industrialização metal mecânica do nosso município que, até então, era reconhecido somente como Capital da Louça. Assim, todo este fato envolvendo a Fiat e a proporção que tudo isso está tomando, compõem um cenário de muita tristeza para nós”, destaca.

O presidente do Sindimovec criticou, mais uma vez, a ausência do Executivo Municipal em todos os eventos de discussão a respeito do tema. “O movimento sindical de Campo Largo, formado por seis sindicatos de base municipal, já esteve reunido por várias oportunidades com a Administração Pública, com o intuito da criar uma agenda dos trabalhadores para, dentre outros assuntos, tratar também de situações desta natureza. Outra reivindicação do movimento foi pela criação de uma Secretaria do Trabalho, para que assuntos como esse pudessem ser tratados com mais particularidade pelo município. Mas, ainda não houve qualquer resposta por parte do Poder Público, que mantém a pasta atrelada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico”, destaca.

E ao falar sobre desenvolvimento econômico, Adriano reforçou a preocupação do Sindimovec com o progresso da cidade em todos os setores. “Tanto o Sindicato tem esse comprometimento, que ocupa cadeira em vários conselhos municipais, porque entende que, através do debate amplo é que se conquista um desenvolvimento democrático”, pontua.

Ao final de sua participação, Carlesso agradeceu – em nome de toda a direção do Sindimovec – ao vereador João Marcos Cavalin Cubas (PR), autor do pedido da “Tribuna Livre” direcionada à questão, bem como, aos demais vereadores casa, pela aprovação. Fez também, agradecimento especial à Lindamir Ivanoski (PSL), única vereadora presente na audiência pública realizada em junho, na Alep.

O ciclo de debates públicos a respeito dos atos antissindicais da Fiat continuará nas próximas semanas. Em breve, o assunto estará em pauta no Congresso Nacional durante audiência pública, cujos detalhes estão praticamente concluídos. O evento já recebeu apoio dos senadores do Paraná, Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffman (PT), e de Paulo Paim, do PT gaúcho.

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