Trabalhadores discutem retomada do protagonismo industrial no país

Em seminário, intelectuais, sindicalistas e especialistas defendem indústria nacional com participação da classe trabalhadora

Na quinta-feira (14), acadêmicos, sindicalistas e especialistas discutiram a retomada do protagonismo da indústria no Brasil. Esse foi o principal objetivo do seminário “Desafios da Indústria no Brasil e os Trabalhadores e Trabalhadoras”. O evento foi organizado pelo Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID Brasil) e Macrossetor da Indústria da CUT, com apoio da Fundação Perseu Abramo.

Crédito: Adonis Guerra-  Rafael Marques: é preciso defender a indústria nacional com participação dos trabalhadores

Na primeira mesa de debate, com o tema “A visão dos atores sociais – Como reestabelecer o protagonismo do setor industrial enquanto indutor do desenvolvimento e distribuição de renda?”, Rafael Marques, presidente Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID Brasil), explicou que é preciso defender a indústria nacional que tenha diretrizes com participação dos trabalhadores.

“Ao discutir os rumos do país precisamos falar de emprego de qualidade, distribuição de renda e incentivos em pesquisa. Por isso, precisamos formular propostas para o fortalecimento do parque industrial brasileiro, que levem em consideração as demandas da classe trabalhadora e o estabelecimento de políticas públicas para que a indústria seja o principal indutor do desenvolvimento social do país” – Rafael Marques.

Já o presidente do  Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (SIMPI), Joseph Cury, destacou que o único caminho para o movimento sindical e patronal é o mercado interno para estimular a economia. “Em 2008, com a crise mundial, o país sobreviveu por conta da política econômica do governo federal. Enquanto, o mundo parava de consumir, o Brasil distribuía crédito, consumia e, consequentemente, girava toda a economia”, disse.

“Falar em protagonismo industrial é falar em empreendedores individuais. Precisamos somar o movimento sindical e as micros e pequenas empresas em um projeto que contemple as demandas da classe trabalhadora”, completou Leonardo Pinho, coordenador da Unisol Brasil (Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários).

Crédito: Adonis Guerra
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 Mesa teve participação de sindicalistas, acadêmicos e especialistas

Já Wagner Carvalho, da Universidade Federal do ABC, abordou o papel da universidade para reestabelecer o protagonismo industrial. “A UFABC têm iniciativas inéditas no Brasil, dentre elas, o programa de doutorado acadêmico industrial, que tem a participação da indústria da região e de todo o país. São projetos de inovação tecnológica com interesses em comum entre a indústria e a universidade”, disse. “A interação com o ramo industrial é difícil de acontecer porque os discursos e objetivos são diferentes, mas precisamos romper estas dificuldades para pensar em um país mais competitivo”, completou.

O diretor do Centro de Tecnologia e Informação de Campinas, Victor Mammana, lembrou que indústria forte é, normalmente, subsidiada por seus governos, como é o caso de Alemanha e China. “O que temos no nosso país é uma República dos bancos, que pensam apenas em seus lucros. Isso nos impede de ter uma cadeia produtiva brasileira saudável, forte e competitiva. É uma falácia que os tributos brasileiros são altos, na verdade, eles são maus distribuídos”, contou.

Crédito: Adonis Guerra
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 Encontro acontece em São Paulo e tem participação de representantes da classe trabalhadora

Indicadores da indústria

Em sua intervenção, Patricia Pelatieri, do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicos (Dieese), apresentou o estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizado em 2018, com os principais números da indústria brasileira. Os dados revelam que a indústria nacional, como um todo, representa 21% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, 51% das exportações, 68% da pesquisa e desenvolvimento do setor privado e 32% dos tributos federais (exceto receitas previdenciárias).

Ainda de acordo com o estudo, para cada R$ 1,00 produzido na indústria, são gerados R$ 2,32 na economia como um todo. A indústria brasileira também gera 12 milhões de empregos diretos, sendo 10,5 milhões na indústria de transformação. O rendimento médio do trabalhador é de R$ 2.104,00, maior que o comércio (R$ 1.713,00), que a construção (R$ 1.660,00) e que a agricultura (R$ 1.379,00).

“Uma indústria forte e dinâmica significa maior criação de empregos direitos e indiretos com rendimentos superiores aos da média da economia. Além disso, permite a geração e difusão de tecnologia, o que promove uma estrutura muito importante para um país competitivo internacionalmente”, afirmou Patrícia.

 

Por Shayane Servilha, assessoria de imprensa da CNM/CUT.

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