Trabalhador com representatividade sindical é ‘top’
Nos últimos dias, com a paralisação dos caminhoneiros, muito se falou sobre a ausência do movimento sindical dentro dos protestos da categoria. Aquela clássica disputa de narrativa nunca se fez tão distante da vida das entidades que representam formalmente a classe trabalhadora quanto num dos maiores protestos já realizados no país. E não é para menos, na greve que imobilizou os principais meios de produção brasileiros, era comum se ouvir frases como “não me representa” vindas dos motoristas quando questionados sobre o que eles achavam de um sindicato.
Mas é como dizem: “o buraco é mais embaixo”. E esse atual perfil da classe trabalhadora se reflete nos números. Segundo dados do Ministério do Trabalho através da pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais 2017, do IBGE, 9% dos trabalhadores brasileiros são sindicalizados. No setor de serviços, onde se encontra o segmento dos transportes, o índice é ainda mais baixo: 7,8%. Ainda de acordo com os números do IBGE, quanto mais jovem o trabalhador, menor é a chance de ser sindicalizado. Entre trabalhadores de 16 a 29 anos, a taxa de sindicalização é de apenas 5,9% (número de 2015). Já no grupo de 50 a 59 anos, o dado é de 13,4%.
O IBGE alerta que, uma vez que a adesão dos mais jovens equivale à metade dos mais velhos, “menos representativos poderão se tornar os sindicatos”. Ainda seria cedo para uma afirmação conclusiva, adverte o relatório, pois este poderia ser um comportamento que pode se alterar com o avançar da idade. Ou seja, à medida que se torna mais velho, o trabalhador procuraria a proteção sindical. Mas também pode ser “um indicativo de uma mudança definitiva na estrutura sindical do país”, observa o relatório da pesquisa => Leia matéria Para entender o fracasso sindical da greve dos caminhoneiros, via “Projeto Colabora” (por: jornalista Adriana Barsotti).
Agora, eis a questão: você sabe quais são os países líderes em sindicalização no mundo?
Grandes nações que são exemplos em desenvolvimento não abrem mão da cobertura legal de um acordo coletivo de trabalho ou da representatividade de uma entidade de defesa dos direitos dos trabalhadores. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), esses sãos os países ‘Top 10’ em taxa de sindicalização no mundo:
É importante deixar claro que o afastamento dos jovens dos sindicatos não é algo que se inicia agora. Isso se reflete no processo de despolitização que gerações e gerações de brasileiros vêm sofrendo ao longo dos anos. Como já disse o sociólogo Darcy Ribeiro: “a crise na educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”. Obviamente que entidades que defendem os direitos dos trabalhadores são alvos históricos dos que detém os meios de produção, principalmente se tratando de países em desenvolvimento.
Recentemente as centrais sindicais emitiram uma agenda em conjunto para marcar posicionamento e também apresentar pontos em comum para reintegrar à classe trabalhadora. “Os trabalhadores criaram o sindicalismo para serem protagonistas do próprio futuro. Nossa luta, no Brasil e neste momento histórico, é recolocar o País na trajetória do desenvolvimento, com geração de emprego de qualidade, crescimento dos salários, combate à informalidade, à precarização e à insegurança no trabalho e promover a proteção social e trabalhista para todos” – Leia aqui a Agenda Prioritária da Classe Trabalhadora.
Exemplo sueco
Apesar das manifestações contrárias ou favoráveis aos sindicatos pipocarem nas redes sociais ou nos meios de comunicação de massa, pouco se fala dos países que não abrem mão da cobertura legal para os seus trabalhadores. Um exemplo é a Suécia, que apresenta um modelo de economia que aposta em acordos coletivos entre patrões e sindicatos. O resultado ‘dessa cultura de valorização do acordo coletivo’ deixa a Suécia na sexta posição do Índice Global de Competitividade (2017). Ou seja, um dos países mais competitivos do mundo tem um dos mais generosos sistemas de direitos trabalhistas.
Para Kent Ackholt, ombudsman da Confederação Nacional de Sindicatos (Landsorganisationen – LO), a maior confederação sindical sueca, fundada em 1898, “temos sem dúvida um dos sistemas mais justos do mundo no que se refere à proteção dos direitos trabalhistas. Talvez o mais justo de todos, embora muitas vezes não seja perfeito”. Kent completa chamando a atenção para uma questão primordial: os sindicatos devem ser transparente e constantemente fiscalizados: “todas as contas dos sindicatos suecos são rigidamente controladas, tanto por auditorias internas como externas”.
Segundo o Ministério do Trabalho da Suécia, cerca de 90% dos trabalhadores são protegidos por amplos acordos coletivos. No país, mais de 650 acordos regulam o mercado de trabalho, estipulando questões como o reajuste anual de salários, o valor das horas extras e o pagamento de indenizações. Outra questão importante é que a diferença salarial entre as diversas categorias de trabalho é pequena – cenário que faz da Suécia um dos países mais igualitários e socialmente justos do mundo. Leia matéria completa sobre a legislação trabalhista sueca aqui.
Qualidade de vida
O grande desafio para a classe trabalhadora brasileira é decidir se quer trabalhar para viver ou não viver para trabalhar. Na Suécia, a jornada de seis horas de trabalho já é uma realidade em várias empresas e prefeituras. A ideia foi influenciada pela bem-sucedida experiência (desde 2002) da fábrica da montadora Toyota, em Gotemburgo – segunda maior cidade do país. Outra questão é o trabalho flexível, tema polêmico no Brasil, mas consolidado na Suécia: trabalhar de casa, decidir a melhor hora de chegar ao escritório ou reduzir as horas de trabalho para cuidar de um filho ou de um familiar idoso é algo comum.
Por fim, se você acha que valorizar a qualidade de vida é exclusivo da Suécia, engana-se. Na Alemanha, o maior sindicato metalúrgico, o IG Mettal, fechou um acordo com as principais empresas do país, no início deste ano, que prevê um aumento salarial de 4,3%, além de diminuir a jornada de trabalho de 35 para 28 horas semanais. Além disso, as empresas poderão contratar para jornada de 40 horas semanais caso haja a necessidade de aumento de produção. “Os trabalhadores vão ter mais dinheiro no bolso em termos reais; vão obter uma parte justa dos lucros das empresas, e isso vai impulsionar o consumo”, afirmou à Reuters Roman Zitzelsberg, um dos representantes da IG Metall – leia matéria completa aqui.
Portanto, apesar dos problemas de representatividade do movimento sindical brasileiro, o desenvolvimento do país passa pela melhora na condição de vida dos trabalhadores e também no amadurecimento da relação entre empregado e patrão. A verdade é que o progresso deve ser para todos e para isso é preciso escolher um exemplo a seguir: se vamos querer o desenvolvimento baseado na justiça social de países como a Suécia ou a Alemanha (além dos países ‘Top 10’ de representatividade sindical – acima citados); ou continuar sendo país colônia e aceitar a imposição do mercado financeiro, como aconteceu na aprovação da reforma trabalhista, que enfraqueceu a representatividade dos sindicatos e da justiça do trabalho.
“Até quando nos faremos de desentendidos de que quanto mais ganha um trabalhador maior é o seu giro econômico e mais veloz é o crescimento do país?” – questiona Adriano Carlesso, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campo Largo e do Conselho Estadual do Trabalho.
Por Regis Luís Cardoso.