OCUPA Campo Largo – empoderamento e democratização no ensino superior
O Cursinho Popular Ocupa é um projeto iniciado em 2017 para auxiliar estudante a se preparar para o Vestibular e o ENEM. Esse ano o ‘Ocupa’ recebeu quase 600 inscrições, mas somente os 40 primeiros formarão a mais nova turma que se inicia no dia 16 de março
O ano começou difícil para a classe trabalhadora. A primeira notícia, lá no 1º de janeiro de 2019, veio em forma de ‘boi de piranha’. Isso significa dizer que o atual governo federal ‘elevou’ o salário mínimo para R$ 998,00. Aí o desinformado pode pensar: “mas houve um aumento, pois o mínimo era de R$ 954,00”. O que não foi contado é que havia outro valor aprovado pelo Congresso Nacional, ainda em 2018, de R$ 1.006,00; ou seja, quem está na parte mais baixa da pirâmide econômica perdeu dinheiro.
Agora faça um breve exercício: você faz parte de uma família que precisa se manter com o salário mínimo (R$ 998,00). Imagine que tens mais três dependentes, sendo dois deles estudantes (acrescente aí os custos com material escolar e uniforme). Para fechar a conta, pense que um desses dependentes está prestes a ingressar no vestibular. Questão: é possível, numa família comum da classe trabalhadora brasileira, pagar, no meio de tanto gasto diário, um cursinho pré-vestibular? Difícil.
E foi pensando em suprir essa dificuldade que um coletivo de professores e estudantes de Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba, criou o Cursinho Popular Ocupa! Projeto iniciado em 2017 através da União da Juventude Socialista (UJS) e da União Campolarguense dos Estudantes Secundaristas (UCES), em parceria com o Centro da Juventude Bom Jesus, administrado pela Prefeitura de Campo Largo.
Para 2019, o Cursinho recebeu quase 600 inscrições, porém, devido à questão estrutural, só os 40 primeiros formarão a mais nova turma que se inicia no dia 16 de março, das 13h às 17h. E para falar um pouco mais sobre o projeto, Layon Becker (28), professor de Biologia, e Ana Lourenço (18), que foi aluna do Cursinho, estiveram na sede do Sindimovec.
Cursinho Popular Ocupa
Tudo começou em 2017 com “aulões” preparatórios aos sábados durante o segundo semestre. O espaço do Centro da Juventude (CJ) foi cedido pela Prefeitura. Layon explica que a partir de 2018 aumentou ainda mais a demanda: “o cursinho não é só pra quem é estudante. Ele também atende quem já se formou e não tem condições de pagar um particular”.
O coletivo se organiza em parceria com membros da União da Juventude Socialista (UJS) e da União Campolarguense dos Estudantes Secundaristas (UCES). Há um importante trabalhado de base juntos aos alunos da rede pública da cidade; principalmente através dos Grêmios Estudantis, além de divulgação via internet (conheça AQUI a page no Face do Cursinho Popular Ocupa).
As aulas são aos sábados, os professores são voluntários e a maioria dos participantes estuda e trabalha durante a semana. Para que essa parcela da sociedade consiga se profissionalizar, fazer um curso superior, a atividade desse coletivo é fundamental: “nós lutamos por uma sociedade melhor. Muitas das pessoas da escola pública ou da periferia não tem oportunidade de se preparar para o vestibular como outras pessoas têm. Eu, por exemplo, pra me formar, participei de um cursinho em Campo Largo (2008)”, revela Layon.
A questão chave é a experiência de vida e a mudança que a educação popular promoveu nessas pessoas que agora formam o coletivo Ocupa. Para Ana Lourenço, que foi aluna em 2018, “Campo Largo tem outros cursinhos e a maioria é pago; e é muito caro. Muitas pessoas não tem condição de pagar. Além disso, o Cursinho Popular serve como reforço escolar. Quando eu fiz, muitas dúvidas da escola eu tirava nas aulas aos sábados”.
Empoderamento
“Somos um projeto que prepara jovens e adultos, que não têm condições de pagar um cursinho pré-vestibular ou ENEM, para ingressar no ensino superior. Mas vamos além, queremos instigar os alunos a pensar. Criar um pensamento crítico”, explica Layon. O professor defende que é necessário promover debates sobre conjuntura política e falar da questão racial e de gênero. Sobre as aulas, de acordo com ele, há uma dinâmica diferente e são mais interativas.
Ana Lourenço explica os diferenciais do Cursinho: “as aulas são mais abertas e os alunos têm mais liberdade para questionar”. Layon acredita que desde 2017 aproximadamente 150 alunos participaram do projeto. Desses, 20 alunos deram retorno dizendo que ingressaram em instituições de ensino superior: “queremos fazer com que as pessoas percebam que qualquer um pode entrar na universidade”.
“Nosso principal objetivo é ocupar. Levar a periferia, o movimento negro e a classe trabalhadora para dentro das universidades”, finaliza o professor Layon Becker, que enaltece o trabalho de todo o grupo de professores voluntários que se une para fazer o Cursinho Popular Ocupa acontecer.
Por Regis Luís Cardoso.