O suicídio e o trabalho

Em 2007, na França, o número de suicídio cresceu entre trabalhadores. Foram noticiados pela imprensa cinco suicídios na PSA Peugeot-Citröen, quatro na central nuclear de Chinon, três na Renault, um na IBM e um na Sodexho. No Brasil, isso não é muito diferente.

As mudanças que vêm ocorrendo no espaço laboral refletem na rotina e na saúde mental do trabalhador. O aumento de tarefas, o excesso de cobrança, o alto nível de exigência, a alta competitividade, o aumento do ritmo de trabalho, a falta de tempo para o lazer e o uso indiscriminado das tecnologias deixam os trabalhadores ainda mais presos as atividades e responsabilidades laborais. Todos esses excessos podem gerar sofrimento, esgotamento físico e psicológico, aumentar os níveis de estresse e tornar-se uma bomba-relógio.

Você já se questionou como os excessos no trabalho trazem impacto para a sua vida? Não deixa nunca um prazo para depois, mas deixa de participar da vida e crescimento dos filhos; não falta nunca ao trabalho, mas falta ao casamento ou festa do grande amigo; nunca deixa um trabalho sem terminar, mas deixa de participar dos finais de semana com a família. Uma carga horária cada vez maior destinada ao trabalho, não permite investimento em outras áreas da vida. Consequentemente, sem plano B, a pressão e nível de perfeccionismo no trabalho ficam maior e a vulnerabilidade e desgaste também.

Delegar a causalidade do suicídio ao fator trabalho poderia simplificar demais algo tão complexo que envolve fatores psicológicos, biológicos, sociais, culturais e relacionais. No entanto, é preciso considerar o nexo do trabalho nesse contexto e priorizar a saúde mental.

O fato de o suicídio ser tabu, torna a prevenção mais difícil. As queixas e os pedidos de socorro são ignorados e quando se percebe que de fato algo não estava bem já é tarde demais. Por isso, é importante ficar atento a alguns mitos ligados ao suicídio:

1) MITO: Quem quer se matar não avisa. FATO: As pessoas que pensam no suicídio, normalmente, comunicam direta ou indiretamente que querem morrer.

2) MITO: Perguntar sobre suicídio pode induzir a pessoa a isso. FATO: Conversar com a pessoa de forma sensata e acolhedora reduz o nível de desespero suicida.

3) MITO: Quando a pessoa fala que não tem mais razão para viver, devo mostrar que tem outras pessoas que sofrem mais que ela. FATO: É preciso mostrar respeito, cuidado, compaixão, afeição, e, sobretudo, ouvir sem críticas e julgamento.

4) MITO: Devo dizer que tudo vai ficar bem. FATO: A pessoa com ideia suicida precisa da ajuda de profissionais (psicólogo, psiquiatra), a ameaça suicida precisa ser levada a sério. A pessoa que pensa em morrer necessita de apoio emocional de um profissional.

5) MITO: Só pessoas com distúrbios mentais cometem suicídio. FATO: Vários fatores contribuem para que a pessoa cometa suicídio. As pessoas com distúrbios mentais estão no grupo de risco para comportamento suicida, no entanto, isso não significa que todos que tenham algum distúrbio mental pensam em suicídio, tampouco que somente as pessoas com distúrbios mentais se suicidam. O comportamento suicida é um momento de extremo sofrimento, e não, necessariamente, um distúrbio mental.

 

*Angélica Neris é conveniada ao Sindimovec. Ela atende em Campo Largo através do (041) 98872-0414 ou pelo site oficial. O atendimento é prestado na Rua XV de novembro, 1899, Centro (atrás da Igreja Matriz) => mais informações AQUI.

 **O Setembro Amarelo é o mês destinado à prevenção ao suicídio.

 ***O texto é um artigo. As opiniões não necessariamente representam a posição institucional do Sindimovec e são de responsabilidade d@ autor.

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