Movimentos debatem estratégias para resistir ao autoritarismo
Para FUP, frente “vai surgir de qualquer maneira”, mas “é preciso entender o contexto”. Frente Brasil Popular diz que todos os setores democráticos e populares devem estar juntos
Na segunda semana após a eleição de Jair Bolsonaro como presidente da República, movimentos sindical e sociais promovem discussões a partir das quais pretendem estabelecer estratégias de resistência democrática em defesa da democracia, contra o autoritarismo e a perda de direitos.
Para o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, por exemplo, “a eleição demonstrou que os partidos, principalmente os de esquerda, se afastaram muito das bases”. Ele acredita que uma frente de resistência “vai surgir de uma maneira ou de outra”. Se os partidos não vierem, ela virá através dos movimentos sociais.”
Segundo o dirigente, essa frente envolverá os sindicatos e os movimentos sociais, como MST, MTST, Levante Popular da Juventude, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e outros.
Na opinião de Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP) e da Frente Brasil Popular (FBP), é necessária uma frente ampla, democrática e popular “em defesa da democracia, contra o autoritarismo e o fascismo, que deve ser constituída por todos os setores democráticos e populares”, e que, além dos movimentos sociais, precisa contar com a participação de partidos políticos de esquerda, democráticos e os liberais democráticos.
“Se essa frente se pretende ampla, tem que ser composta por entidades da sociedade civil. Mas acho que, sem a participação e sem o protagonismo dos partidos de esquerda, democráticos e liberais democráticos, terá dificuldade de ter êxito”, avalia Bonfim.
Na quinta-feira (1˚), o cientista político e professor da Universidade de São Paulo (USP) André Singer afirmou que os partidos estão resistentes a construir uma frente democrática para enfrentar o ataque a direitos pelo governo Bolsonaro.
Singer acentuou que tal frente deve se impor no campo da sociedade civil, aglutinando instituições que representam os trabalhadores, estudantes e movimentos sociais. “Os partidos terão de se somar a esta ampla frente da sociedade civil, ou ficarão sem base”, disse o analista, em debate realizado na faculdade de História e Geografia da USP.
No mesmo evento, a filósofa Marilena Chaui afirmou que a melhor estratégia, no momento, não são as manifestações de rua, mas faz observações sobre a estratégia. “Eles querem que façamos as manifestações de rua, mas nós precisamos fazer um trabalho lento como é o da toupeira, que cava silenciosamente por debaixo da terra”, defendeu. “Para eles (o governo Bolsonaro), a melhor maneira de gerir a crise é atuar sobre as manifestações espontâneas.”
“Vocês vivem um mundo que acabou. Esse mundo de espontaneidade, do voluntarismo, tem que ser colocado em compasso de espera para entrarmos em um processo lento para nossa organização institucional da resistência”, disse ainda Marilena.
O dirigente da FUP concorda com a filósofa da USP. “Eu compartilho com ela essa ideia, porque, primeiro, precisamos entender o que aconteceu. Entender como um candidato que é ‘um nada’ consegue arregimentar tantos seguidores, sem proposta nenhuma. Muita gente não entendeu o que aconteceu nas eleições”, avalia Rangel.
Em sua opinião, a repetição de estratégias utilizadas ao longo dos últimos anos não promete êxito. “Se a gente fizer manifestação de rua agora, vamos ser derrotados de novo. Vamos fazer as mesmas coisas que sempre fizemos. Temos que modelar (o discurso), ver como vamos chegar às pessoas e depois como conseguiremos sensibilizá-las.”
Bonfim insiste que a construção de uma frente democrática passa pela consolidação da Frente Brasil Popular, como representante dos interesses da classe trabalhadora e, paralelamente, pela participação dos partidos democráticos. “Sem eles, a frente fica sem um pé importante, porque são atores importantes da vida política brasileira.”
Cármen Lúcia
Em palestra promovida nesta segunda-feira (5) em Brasília, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que o país e o mundo passam por “uma mudança perigosamente conservadora”, segundo O Estado de S. Paulo.
“As lutas não acabam, porque a democracia e a Justiça são lutas permanentes do ser humano. Constrói-se todo dia a vida de cada um e a vida do Estado. E essa construção é permanente”, disse.
Via Rede Brasil Atual – Link.