Fiat é traiçoeira, foge da mesa de negociação e apela para o autoritarismo

Arte: Renato Próspero

Quem lembra aquela máxima: “nada é tão ruim que não possa piorar”? Pois é, após várias mesas de negociação (seis, no total), os representantes do Grupo FCA “resolveram” instalar uma Comissão de Fábrica. O objetivo é negociar o PLR diretamente com os trabalhadores, fugindo assim da intermediação sindical  

Manobra traiçoeira é o nome que se dá a uma ação ou ataque inesperado e covarde contra um oponente. Porém, num mundo democrático, quando a questão está no campo da política e do diálogo, esse tipo de atitude é considerada ainda mais deplorável. Diante disso, o Sindimovec, mais uma vez, vem a público denunciar o desrespeito, por parte da Fiat, em relação à negociação do Acordo Coletivo de Trabalho 2018/2019.

Primeiro é bom deixar claro que o Sindimovec jamais se recusou em dialogar ou participar das mesas de negociação com a Fiat. Mas o “prêmio” por respeitar o processo democrático chegou recentemente ao Sindicato. Trata-se de um documento, enviado pelo Grupo FCA, “para fins de conhecimento”, informando que foi aberto edital de convocação da eleição para se criar uma “Comissão Paritária de Negociação da Participação nos Resultados” – em outras palavras: a Fiat quer negociar o PLR (Plano de Participação nos Resultados) sem a intermediação do Sindimovec.

Para a direção da entidade, essa postura não é novidade e representa uma atitude desleal. Principalmente porque o Sindicato realizou assembleia para definir o Rol de Reivindicações no dia 22 de fevereiro. O protocolo dessa pauta, com os itens escolhidos pelos trabalhadores se deu ainda no dia 26 de fevereiro. Porém, a empresa só se manifestou com proposta econômica em maio.

Reuniões

No primeiro encontro, dia 16 de março, os representantes da empresa preferiram não entrar nas discussões econômicas (reajuste salarial, PLR e vale alimentação) e que mais impactam na vida do trabalhador, pautando apenas cláusulas sociais. Diante de um debate improdutivo, outra reunião foi marcada para o dia 28 de março. Mais uma vez nada foi apresentado pela empresa. Na oportunidade, houve comprometimento, por parte dos representantes da Fiat, para, na próxima reunião, a terceira, apresentar uma contraproposta econômica.

No vídeo abaixo, o presidente do Sindimovec, Adriano Carlesso, em Audiência Pública no Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR), denuncia a Fiat:

No dia 17 de abril aconteceu mais um encontro. O resultado: nenhuma novidade na negociação. O único fato novo foi à alteração da plataforma administrativa do Grupo FCA. A proposta econômica só foi apresentada em 18 de maio, pautada somente na correção dos índices do INPC de 1º de março (1,81%), muito abaixo do fechado nas outras empresas da categoria.

Após isso, as outras reuniões aconteceram nos dias 23 de maio 11 de junho. A conclusão desses seis encontros com a Fiat é que a parte patronal não quer negociar. Quando há necessidade de acordo favorável aos trabalhadores, os representantes do Grupo FCA apelam (como já fizeram em 2016, criando, de forma unilateral, uma Comissão Eleitoral de Trabalhadores para tratar do pagamento de PLR sem a intermediação do Sindicato.

Impasse

O Sindimovec sabe que o processo de negociação envolve diversos estudos e perspectivas, por isso sempre respeitou o ‘time’ da Fiat. Mesmo quando as reuniões aconteciam de forma improdutiva e sem qualquer apresentação de contraproposta. Agora, é inadmissível esse tipo de comportamento intransigente, em que tudo se pode e tudo se faz, mesmo que pra isso reine o autoritarismo.

Os representantes da Fiat não se importam com o fato da negociação estar atrasada, tendo em vista que a data-base é em 01 de março. A verdade é que a empresa se nega a dialogar. Eles preferem pressionar o trabalhador para que seus interesses prevaleçam.

Não se pode esquecer que, além da Fiat, o Sindicato tem duas negociações coletivas fechadas, uma na Caterpillar e outra na Metalsa. Sendo os Acordos Coletivos de 2018/2019, em ambas multinacionais, superiores em benefícios ao trabalhador:

::Metalsa => (Reajuste 2,81%; V.A: R$380,00 e PLR: R$ 9.327,00)

::Caterpillar => (Reajuste 2,31%; V.A: R$ 370,00 e PLR: R$ 8.800,00)

*Fiat => (Reajuste 1,81% limitado a R$ 6.431,00; V.A: R$ 278,40 e PLR: R$ 4.798,20)

 Por fim, a direção do Sindimovec considera a atitude da Fiat traiçoeira, principalmente com seu trabalhador. Afinal, qual a justificativa para que a empresa se retire da mesa de negociação sem negociar os anseios dos seus próprios funcionários? Será que a Fiat quer discutir o PLR sem a intermediação do Sindicato? Será que o trabalhador poderá discordar de uma proposta patronal? Mesmo monitorado por um chefe “capitão do mato”?

 

*Esses dados da Fiat estão formatados na última proposta enviada pela multinacional e ainda não foram levados para apreciação dos trabalhadores; visto que é muito inferior ao que as outras empresas do mesmo ramo fecharam em Acordo Coletivo de Trabalho.

 

Direção Sindimovec.

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