Entrevista: ‘Estamos frente a um sistema de agiotagem que paralisou o país’
O economista Ladislau Dowbor, que está lançando o livro “A Era do Capital Improdutivo”, fala sobre como os mecanismos financeiros capturaram o poder político em todo o mundo, inclusive no Brasil
“Não há nenhuma razão objetiva para os dramas sociais que vive o mundo. Se arredondarmos o PIB mundial para US$ 80 trilhões, chegamos a um produto per capita médio de US$ 11 mil. Isto representa US$ 3.600 por mês por família de quatro pessoas, cerca de R$ 11 mil reais por mês. É o caso também no Brasil, que está exatamente na média mundial em termos de renda. Não há razão objetiva para a gigantesca miséria em que vivem bilhões de pessoas, a não ser justamente o fato de que ‘nenhum quadro de referência emergiu para guiar as políticas e as práticas’: o sistema está desgovernado, ou melhor, mal governado e não há perspectivas no horizonte.”
O trecho acima é uma das passagens do livro A Era do Capital Improdutivo (Outras Palavras & Autonomia Literária), do economista Ladislau Dowbor, professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Na obra, ele mostra que o ponto fundamental que define o cenário econômico e social da maior parte do mundo não é propriamente a falta de recursos financeiros, mas sim sua apropriação por corporações que utilizam esses recursos para especular em vez de investir de forma produtiva. Uma esterilização que aprofunda as desigualdades e desenha um horizonte sombrio para o futuro do planeta.
Dowbor analisa uma estrutura em rede nada trivial, na qual as corporações transnacionais dominam a (não) competição de mercado e põe o tempo todo em risco a estabilidade econômica, à mercê de seus interesses. Isso apoiado não em teorias da conspiração, mas em dados e pesquisas de instituições que mostram uma gigantesca estrutura na qual grande parte do controle flui para um núcleo diminuto e fortemente articulado de instituições financeiras, uma verdadeira “superentidade”.
“Ao vermos como nos principais setores as atividades se concentraram no topo da pirâmide, com poucas empresas extremamente poderosas, começamos a entender que se trata sim de poder no sentido amplo. Agindo no espaço planetário, na ausência de governo/governança mundial, frente à fragilidade do sistema político multilateral, as corporações manejam grande poder sem nenhum contrapeso significativo”, diz Dowbor no livro. “Com efeito, menos de 1% das empresas consegue controlar 40% de toda a rede.” Trata-se de instituições financeiras como Barclays Bank, JPMorgan Chase&Co e Goldman Sachs.
É esse exercício constante da captura do poder – seja ele político, jurídico ou midiático – que faz com que as grandes corporações continuem lucrando às custas de aplicações que não servem ao conjunto da sociedade. E que desestabiliza economias e governos como, segundo Dowbor, aconteceu com o Brasil.
Leia entrevista na íntegra aqui.
Por Glauco Faria, para a Rede Brasil Atual.