Dia Internacional da Mulher: “Gosto de trabalhar no chão de fábrica, ser metalúrgica”
Rosi esteve no Sindimovec pra bater um papo sobre o Dia Internacional da Mulher e outros assuntos mais – *Foto: Regis Luís Cardoso
Oito de março é o Dia Internacional da Mulher. Durante esse mês acontecem ações em todo o mundo por igualdade de direitos. No Sindimovec não é diferente e quem tem propriedade pra falar sobre isso é Rosi Cunico, única diretora da entidade e que faz parte do Conselho da Mulher de Campo Largo
“Eu gosto de conversar, saber o que está acontecendo em Campo Largo, me envolver. Assim como gosto de trabalhar no chão de fábrica, ser metalúrgica. Eu gosto”. Essas palavras são de uma trabalhadora que este ano completa 17 anos na área metalúrgica. Seu nome: Rosi Cunico, 38 anos, quatro como diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de Campo Largo, o Sindimovec: “gosto de sindicalismo, de defender o direito dos trabalhadores. No meu ponto de vista, o resumo do sindicato é esse: defesa do direito trabalhista. Muitas pessoas não conseguem perceber isso. Assim como não percebem que quem fortalece um sindicato é o funcionário”.
Atualmente ela é a única diretora mulher do Sindimovec, é comunicativa, sempre pró ativa, gosta de ajudar as pessoas e de passar conhecimento para os mais novos. “Mesmo sendo poucas as mulheres que trabalham hoje nessa área, na CAT, em 2013 aproximadamente 30% eram mulheres na produção. Já em 2017, a maioria dos prêmios de qualidade, na empresa, foram entregues para mulheres”, explica a funcionária da Caterpillar (CAT).
Quando questionada sobre como se tornou metalúrgica, Rosi explica que começou a trabalhar na Lorenzetti, em Campo Largo, em 1998: “tinha 18 anos. Entrei como soldadora. Fiquei 11 anos trabalhando lá. Depois saí, procurei outros serviços, mas voltei pra área metalúrgica. Agora vai fazer seis anos que estou na Caterpillar, onde há mulheres que trabalham como supervisoras, gestoras, técnicas de segurança, engenheiras, além de outras áreas dentro da empresa”.
Dia da Mulher
Sobre o Dia Internacional da Mulher (08), Rosi foi direta: “acho que a mulher tem que ser valorizada em todos os sentidos. Antigamente a mulher era privada de muitas coisas, hoje já evoluiu, mesmo assim, deveríamos ser mais participativas”. Para a dirigente sindical, a luta por igualdade de direitos passa pelo enfrentamento da mulher no combate ao assédio e nas denuncias de abusos.
Rosi também vê este ano (2018) como o momento de iniciar uma nova fase na sua vida. Ela agora é Secretária no Conselho da Mulher de Campo Largo: “esse ano comecei no Conselho. Estou achando super bacana. Ali há debates, vemos a dificuldade das mulheres na cidade, principalmente nos bairros, e podemos trabalhar para melhorar isso”. Para ela o Conselho é fundamental, pois pode atuar em questões pontuais como a saúde da mulher.
Sindicato e Conselho da Mulher: luta por adesão
Imagine você, mulher, durante seu trabalho, ter a função de ensinar um aprendiz homem. Até aí tudo bem. Mas e quando essa pessoa não consegue ser ensinada por uma mulher? O que fazer? Rosi explica que isso já aconteceu com ela: “uma vez, quando fui ensinar um menino, ele só observava de longe. Aí depois, quando tinha alguma dificuldade, não perguntava pra mim, perguntava para o menino ao lado. Então isso ainda existe”.
A dirigente do Sindimovec explica ainda que há muito trabalho pela frente: “acho que a mulherada tinha que se envolver mais, enfrentar o desafio de se aproximar de um sindicato”. Mas a dificuldade não está apenas na esfera sindical: “no Conselho Municipal da Mulher também são poucas as mulheres que querem participar. Não sei se ficam com medo, mas não querem se envolver. E é aí que perdemos ponto, porque precisamos mostrar que podemos enfrentar e conquistar direitos”, completa Rosi.
Sobre estar num sindicato, ela explica que gosta muito da experiência. Considera o não envolvimento das mulheres no sindicalismo culpa de alguns homens. “Eles acham que sindicalismo não é coisa de mulher porque tem que viajar, tem reunião aqui, reunião lá, mas não é tudo isso. Acho que o homem põe na cabeça da mulher que sindicato é só dor de cabeça, sendo que às vezes não é”, explica.
Ainda sobre o sindicalismo, para ela o momento é de diálogo com a base: “a mídia mostra totalmente o inverso do que é a realidade sindical e as pessoas vão pela mídia. Precisamos orientar, explicar a versão do Sindicato. Muita gente pega a informação que a grande mídia divulga e ela é totalmente contra nossa atividade”.
Prova disso, conclui Rosi, foi quando ela participou de um protesto promovido pelas centrais sindicais, em Brasília, no ano passado: “eu estava lá. Aí quando entramos no ônibus pra voltar, tivemos contato com o que a mídia estava noticiando. Era totalmente o oposto do que tinha acontecido. Aí a pessoa não está lá vendo o que de fato acontece e acredita em uma versão”.
Por Regis Luís Cardoso (texto e fotos).