#8M – Mulheres no mercado de trabalho brasileiro: velhas desigualdades e mais precarização
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) lançou um estudo sobre o mercado de trabalho brasileiro e a situação das mulheres no contexto da pandemia
O mercado brasileiro passa por uma situação dramática: aumento do desemprego, da informalidade, do trabalho precário, da subutilização da mão de obra e redução dos rendimentos de trabalhadores e trabalhadoras. Durante os dois anos da pandemia de covid-19 o governo brasileiro promove o desmonte das instituições democráticas, no corte de direitos sociais e trabalhistas e na adoção de políticas que resultaram na ampliação da pobreza e no aprofundamento das desigualdades sociais características da sociedade brasileira.
As mulheres, que historicamente ocupam posições mais vulneráveis no mercado de trabalho, foram duramente atingidas por essas circunstâncias. Os dados são da PnadC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua). As informações foram desagregadas por cor ou raça, isto é, para mulheres negras e não negras.
No terceiro trimestre de 2021, por exemplo, a força de trabalho feminina contava com 1.106 mil mulheres a menos do que no mesmo trimestre de 2019, ou seja, passou de 47.504 mil para 46.398 mil, o que significa que parcela expressiva de trabalhadoras saiu do mercado de trabalho e ainda não havia retornado em 2021. A redução entre as negras na força de trabalho foi de 925 mil mulheres no período, número superior ao das não negras, correspondente a 189 mil.
O que chama atenção, de acordo com os dados do Dieese, é a proporção de mulheres, tanto negras como não negras, que, no terceiro trimestre de 2021, procuravam colocação no mercado de trabalho há mais de um ano: 49,9% e 47,6%, respectivamente. Ou seja, quase metade das mulheres desempregadas buscava trabalho há mais de um ano, sem encontrar. Ainda, em 2021, a proporção de homens que buscava trabalho ha mais de um ano foi de 36,1% para os negros e de 41,7% para os não negros.
Quando ocupadas, a proporção de mulheres subutilizadas foi de 33,3% no terceiro trimestre de 2021, maior do que a dos homens, 20,9%. A taxa composta inclui a de desocupação, a de subocupação por insuficiência de horas e a da força de trabalho potencial, pessoas que não estão em busca de emprego, mas que estariam disponíveis para trabalhar. Quase 4 trabalhadoras entre 10 mulheres negras foram subutilizadas em 2021 (39,1%), proporção maior do que a de não negras (26,2%). Vale destacar que a pandemia e a política econômica pífia do governou elevaram a subutilização da força de trabalho feminina.
A reforma trabalhista já tinha reduzido o rendimento e precarizado o trabalho, sem gerar os empregos prometidos. A pandemia agravou esse quadro. Verificou-se o crescimento do número de mulheres trabalhadoras por conta própria, as chamadas empreendedoras, que, na verdade, são pessoas que lutam para sobreviver diante de uma realidade de precarização e incertezas. As únicas ocupações femininas que cresceram entre o terceiro trimestre de 2019 e o de 2021 foram as das trabalhadoras por conta própria: 9,4% para não negras e 2,9% para as negras. Já o percentual de negras com CNPJ aumentou 36,4% e o de não negras, 27,8%. O total de assalariados do sexo feminino diminuiu no período analisado (-4,7%), bem como o emprego das mulheres no setor público (-3,4%).
No terceiro trimestre de 2021, 49,4% das mulheres ocupadas tinham carteira assinada, enquanto entre os homens, o percentual era de 45,3%, valores semelhantes aos verificados no mesmo período de 2019 (49,2% para elas e 46,1% para eles). Em relação à Previdência, entre as mulheres, 64,7% eram contribuintes e entre os homens, 61,6%, sem mudança expressiva em relação ao terceiro trimestre de 2019 (64,0% mulheres e 61,6% homens).
Os rendimentos das mulheres continuaram inferiores aos dos homens, mesmo sendo a escolaridade delas quase sempre mais alta. Em termos gerais, as mulheres receberam menos: o rendimento médio feminino foi de R$ 2.078, no terceiro trimestre de 2021, e o masculino, de R$ 2.599. Na comparação, as mulheres ganharam 80% do recebido pelos homens, proporção maior do que os 78% verificados no terceiro trimestre de 2019, quando elas recebiam R$ 2.139 e os homens, R$ 2.742.
As mulheres têm, geralmente, mais anos de estudo do que os homens: cerca de 10,4% das ocupadas têm ensino superior completo, enquanto entre os homens na mesma situação, o percentual é de 9,0%. Mais anos de estudo, no entanto, não influencia na remuneração. Em ocupações típicas de ensino superior, a mulher ganhou, no terceiro trimestre de 2021, R$ 31,41 por hora e os homens, R$ 44,41, ou seja, elas receberam cerca 71% dos rendimentos masculinos.
Confira nos links abaixo os gráficos e mais dados detalhados dos estudos do Dieese.
Fonte: Dieese (com edição: Sindimovec).