Temer negocia acordo que pode acabar com a indústria nacional e empregos
Trabalhadores criticam falta de transparência na negociação e denunciam impactos do Acordo Bilateral com a União Europeia para o País, como o fechamento de empresas e o fim de postos de trabalho
Um Acordo Bilateral de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia pode ser fechado a qualquer momento e acabar com a indústria nacional, deixando milhões de trabalhadores e trabalhadoras desempregados no Brasil. Sem transparência, sem debate com a sociedade e sem a participação dos trabalhadores, o governo de Michel Temer (MDB-SP) acelera a negociação e pretende assinar o acordo até agosto deste ano.
A negociação prevê o fim da cobrança da taxa de 35% de importação dos produtos industrializados da União Europeia aos países que compõe o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) por um período de 15 anos. Com isso, o Brasil e os países vizinhos oferecem suas commodities, que são os produtos de baixo valor agregado, em troca de bens industrializados e serviços avançados produzidos na União Europeia.
O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), e vice-presidente dos Metalúrgicos do ABC, Paulo Cayres, o Paulão, explica que se o Acordo de Livre Comércio for aprovado, poderá ocorrer uma nova invasão de produtos importados no País, com a queda de investimentos na indústria e fechamento de fábricas no Brasil.
Segundo ele, são cerca de seis milhões de postos de trabalho ligados à indústria brasileira que poderão simplesmente desaparecer.
“Não se pode assinar um acordo que coloca em risco os empregos, os direitos dos trabalhadores e os parques industriais dos países do Mercosul”, critica Paulão, que completa: “por isso, exigimos total transparência no processo.”
Ele explica que se o Acordo de Livre Comércio entre os blocos for assinado, não passará a valer imediatamente e os trabalhadores poderão pressionar os parlamentares dos quatro países que compõe o Mercosul a não apoiarem o acordo, uma vez que a matéria ainda precisará ser aprovada pelos parlamentos para virar tratado e entrar em vigor.
Segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Damasceno, responsável pela Política Industrial na entidade, com o fim do imposto de importação, as montadoras de matrizes europeias que estão no Brasil, como a Volkswagen, Mahle e Mercedes, vão preferir produzir automóveis em seus países e mandar os carros para o Brasil prontos.
Para explicar o impacto do acordo na produção automobilística brasileira, o diretor dos Metalúrgicos do ABC usa como exemplo a produção do automóvel Polo, que é feita tanto pela fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, instalada no Brasil, quanto pelas fábricas da Europa.
“Caso esse acordo seja aprovado, eles irão preferir produzir tudo nas fábricas europeias e trazer o carro pronto apenas para ser vendido no Brasil. E sem a produção do Polo, hoje, metade dos trabalhadores da fábrica no ABC seria mandada embora.”
Leia matéria na íntegra AQUI (via CNM-CUT). Por Érica Aragão, CUT Nacional.