Cálculo da inflação é complexo e limitado

Técnico do Dieese explica que vários fatores limitam o Índice Nacional de Preços ao Consumidor

O supervisor técnico do Dieese-PR, Sandro Silva, explica que o cálculo da inflação é bastante complexo e considera vários fatores. Segundo ele, em primeiro lugar, deve-se entender que o índice se refere a uma média de consumo de um público específico. No caso do INPC, o público da pesquisa é a população que recebe entre 1 e 5 salários mínimos. É preciso ter em mente também que se trata de uma média nacional, feita em locais específicos. O INPC é uma média dos preços aferidos em 11 capitais brasileiras.

Sandro explica ainda que existem duas etapas de pesquisa. Primeiro, realiza-se uma Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), um estudo detalhado que acompanha o consumo de uma amostra da população em determinado período. “A POF verifica quais são os itens consumidos e qual o peso de cada item no orçamento familiar. Entretanto, trata-se de uma pesquisa cara e demorada, e por isso ela é realizada apenas a cada 10 anos. A última foi feita em 2008/2009”, resume.

Com a realização da POF, segundo o supervisor técnico, são determinados quais itens irão compor o cálculo da inflação. Atualmente, são considerados 382 itens para o INPC, entre alimentação, transporte, vestuário, telecomunicações e muitos outros. Passa-se então para um segundo estudo: uma pesquisa de campo que acompanha mensalmente a variação dos preços de tais itens, nos locais determinados. “Como a POF é realizada somente a cada 10 anos, a inflação acaba sendo um retrato do consumo daquele período, que não agrega as mudanças de consumo mais recente”, explica.

Ao final, é feita ainda uma média de todos os itens pesquisados e em todos os locais pesquisados. No cálculo, Curitiba tem peso de 7,29%. Por exemplo: em agosto, o INPC foi de 0,03% negativos, mas, na capital paranaense, a variação foi de 0,35% positivo; no acumulado dos últimos 12 meses, a média nacional foi 1,73%, mas, em Curitiba, a variação foi de 2,15%. “Não se trata de fraude ou manipulação dos números, mas de limitações da metodologia de pesquisa”, conclui.

Preços em queda?

Quanta a dúvida sobre a real diminuição dos preços, Sandro explica que, atualmente, 31% dos itens que compõem o INPC referem-se ao grupo dos alimentos e bebidas, em queda nos últimos meses. “Diante de uma safra positiva, que gerou aumento na oferta de produtos, o grupo de alimentos e bebidas registrou queda de 2,48% nos últimos 12 meses”, justifica. Ou seja, apesar do aumento progressivos de itens como mensalidade escolar e plano de saúde, outros 118 itens do INPC apresentaram queda efetiva.

Diminuição do consumo

Outro ponto importante a se considerar nesse processo de desaceleração da inflação é a queda do consumo brasileiro e o baixo nível de atividade econômica. “O país entrou em recessão e o desemprego aumentou muito, assim como a informalidade. Ou seja, houve uma diminuição na renda e, consequentemente, no consumo da população. Tudo isso contribui para queda dos preços e a diminuição do INPC”, acrescenta Sandro Silva.

 

Por Renata Ortega/SEEB Curitiba – via Terra Sem Males (foto: Joka Madruga). 

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